Cuere Nero
= Parte I =
Chovia de assustadora em Torres, cidade do sudeste bem equilibrada economicamente e na região metropolitana da capital. No bairro nobre dali, Elísio, uma casa com jardim bem cuidado que era açoitado pelos ventos sem rumo e chuva forte está sem luz. No maior quarto da casa, no andar de cima, deitada na cama está uma pessoa estressada. Um criado se aproxima da porta e bate duas vezes.
– Se... – A voz da pessoa que batia é interrompida imediatamente.
– NÃO! – O grito fora tão expressivo e forte que seria difícil distinguir de um trovão da tempestade. Um tiro foi ouvido depois disso e tudo se silenciou.
A cidade parecia estar entorpecida no sono, até que antes de amanhecer a tempestade cessara e somente as conseqüências do fenômeno eram vistas, o sol estava forte e a temperatura quente.
Já eram 8 da manhã quando Paulo acordou, estava atrasado para a primeira aula da faculdade, de certo que só assistiria a segunda então, vestiu-se apressado, pegou sua mochila pesada e bochechou um liquido verde de higiene bucal, a empregada estava do lado de fora de casa conversando com alguém, assim que correu ela o cumprimentou, mas tentando ajeitar a camisa Paulo correu sem falar com ninguém. A próxima aula era de História do Direito, ao contrário de todos os alunos de sua turma, ele preferia filosofia, história e artes ao invés de códigos de leis, trabalho ou burocracias da sua graduação.
Chegando em frente a faculdade, Paulo respirou fundo, tentou se recompor e subiu as escadas da entrada para o Hall tranquilamente... Eram 8:30AM quando ele pegou o elavador, a próxima aula começava em 25 minutos. Desceu do elevador no sexto andar, caminhou pelo corredor bem iluminado com vista para o pátio largo em silêncio, sua cabeça doía um pouco, sua perna direita também. A sala da sua classe estava com a porta fechada devido a aula, sentou-se em uma cadeira próxima a sala e baixo a cabeça e fechou os olhos, queria dormir, porém, pensamentos estranhos vinham a sua cabeça, gente gritando, fogo, barulho, até que sentiu uma mão quente na lateral de sua face.
– Paulo... – A voz doce e suave acompanhada de um perfume delicioso e molhado acordou Paulo de seus devaneios.
– Sophia... – Paulo ergueu a cabeça e encarou sorrindo para a moça que lhe acordara. Sophia era uma colega de turma que recentemente tinha aparecido em seu serviço curricular, estágio, e ele não havia reparado que era uma colega de classe. Branca, ruiva e com olhar sério as vezes, ela o deixava intimidado.
– O Professor perguntou por você. – disse ela sentando ao seu lado e observando os alunos saindo da aula.
– O que ele quer saber? Como eu trabalho sem carga horária definida e chego exausto na faculdade? – Paulo esfregava os olhos e bocejava.
– Na verdade mocinho, eu quero o trabalho que passei para hoje. Não me importa se não vem a aula, mas quero produtividade. – disse o professor que acabara de sair da sala.
– Professor. Me perdoe, mas posso entregar minha pesquisa por e-mail? Eu...
– Sem problemas, mas faça isso HOJE! – O Professor ajeitou os óculos e saiu.
– Sophia... você pode me ajudar? Nem sei por onde começar com isso... argh! – Paulo se levantou e foi seguindo lentamente para sala, Sophia logo atrás continuando a falar.
– Bom, meus livros e links estão no meu computador de casa, lá no fórum eu mando para seu e-mail, ta bem? – Estranhamente ela sorriu denovo, Paulo quase nunca a via sorrir, então sorriu de volta.
– Obrigado. Não esqueço um favor...
– Pode ficar certo que eu também não. – E ela sentou mais para o fundo da sala.
Paulo continuava sonolento quando todas as aulas acabaram, continuou andando para fora da faculdade sem ânimo e mais algumas cenas de gente gritando, coisas explodindo e sangue por toda parte passou pela sua cabeça. Parecia que realmente os boatos se concretizavam, o público já sabia que a Máfia estava em Torres. Caminhou mais algumas quadras e chegou no quarteirão do Fórum, distraído nem percebeu que Sophia estava na sua frente na fila do detector de metais. Ficou quieto, a bolsa dela apitou no raio-x mas logo ela mostrou o crachá de funcionária estagiaria e então deixaram passar. Paulo passou direto sem problemas e então correu para se aproximar dela na fila do elevador.
– Odeio aquelas coisas sabe... Primeiro os bancos, agora até no fórum somos obrigados a passar por isso... – Comentou tentando puxar assunto.
– É para nossa segurança. Não reclame Paulo, eu poderia estar com uma pistola na bolsa. – Ela respondeu entrando no elevador.
– Oitavo andar, por favor. – Paulo pediu ao ascensorista.
– O pior não é o raio-x ou detector de metais, e sim as câmeras, elas me incomodam...
– Quanto a isso eu não me preocupo... é mais fácil esconder o rosto do que armas. – As pessoas no elevador começavam a encarar os dois de forma estranha.
– Mas o que é isso? Agora você é perito em falhas se segurança ou o que? – disse ela com ar de riso.
– Bom, sempre reparo nessas coisas, desde criança faço isso sabe...
– Ahn, ta... mas, você quer ser policial?
– Longe disso...
– Chegamos. – saíram do elevador e logo o celular de Sophia tocou.
– Eu espero... – Paulo sussurrou.
– Vá em frente, vou demorar um pouquinho... – Sophia tapava o telefone.
– Tudo bem... – Paulo foi em direção a sala onde trabalhava, mas ouviu Sophia esbravejando ao fundo um “Não liguem pra mim a menos que seja algo IMPORTANTE, eu tento viver aqui tudo bem?”
Caminhando mais a frente, o caminho de Paulo foi bloqueado por dois oficiais da policia militar, fortemente armados e com uniforme impecável.
– Paulo Bacellar? – perguntou um deles.
– Sim... qual o problema? – Paulo ficou tenso.
– O Senhor não pode passar agora. Acompanhe-nos, por favor. – O soldado o segurou pelo braço de forma firme mas sem exagero e foram caminhando para o lado oposto de onde ele iria.